Entrevistas

 

Entrevista a Vitor Marques

Entrevista a Manuel Monteiro e Fernando Araújo

Grupo: Bom dia. Conhece a tradição de “Guimarães, gente sem lei”?

Manuel Monteiro: Não.

Grupo: E a “Guimarães esfola gatos, mata cães”?

M.M: Conheço. Já é muito antiga, antiquíssima mesmo. Já ouvi falar dos meus antepassados e nunca soube o porquê a que respeito vem isso.

Grupo: E “Guimarães, duas caras”?

M.M: Tem as duas caras porque é derivado á estatua que esta na Oliveira. Tem uma cara e outra na barriga. (apontando para a cabeça e para a barriga)

Fernando Araújo: É uma passagem da história de quando tínhamos um acordo com alguém que governava na ocasião em Famalicão e eles ficaram de vir auxiliar as áreas e não apareceram. É mais ou menos isso.

M.M: Ah! Eu não conheço essa história, conheço a história do Egas Moniz que vem daí do Afonso Henriques que fez um contrato com os espanhóis e que depois, o Egas Moniz foi com os filhos com a corda ao pescoço.

F.A: Não é dessa altura, não é dessa ocasião.

Grupo: E “Milagres da Oliveira”?

M.M: Eu não acredito em milagres, nem da Oliveira nem de ninguém. Nunca ouvi falar.

F.A: Vem da batalha de Santa Luzia, da Senhora da Luz. O milagre em que D. Afonso Henriques, estava-se a fazer noite, é o que reza a história, ele pôs-se a rezar para que lhe desse mais uma hora de dia para vencer os mouros.

Grupo: E no dia da Nossa Senhora da Conceição e de Santa Luzia oferecer as passarinhas e os sardões?

M.M: O rapaz oferecia os sardões às raparigas e as raparigas ofereciam as passarinhas. Isso já é muito antigo. Já vem dos meus tempos de rapaz, porque eu moro em S. Lazaro e na festa de S. André também lá se vendem passarinhas e sardões.

F.A: É no dia 29, é na véspera do Pinheiro, mas também não sei o significado disso. Mas isto já vem do antigo dos nossos pais e avós.(refere-se à festa de S. André)

Grupo: Ervas de S.João?

M.M: Na noite de S.João há quem ponha ervas, são lendas são histórias. Agora usa-se aqueles vasos de manjerico e antigamente era alface e quem encontra-se um trevo de quatro folhas era rico, eu encontrei muitos e fiquei sempre pobre.

Grupo: 30 de Abril para 1 de Maio.

M.M: Para por os ramos de sabugueiro para não entrar o burro.

Grupo: Porque?

M.M: Não sei, são coisas antiquíssimas, é para dar sorte. O burro nunca entra a porta está fechada. (risos)

Grupo: Conhece mais alguma tradição de Guimarães que não tenhamos referido?

M.M: Há a da cantarinha, das Gualterianas e aquela ponte na Santa Luzia, no dia de Páscoa até ao S.João, andávamos a remar e a andar de barco. Era bonito, juntava-se lá muita gente, só acabou quando se fez o estádio.

F.A: Não era do vosso tempo, mas era engraçado.

M.M: Era engraçado pois estava lá um rádio e nós íamos para lá dançar, é uma tradição que foi pena acabar.

Grupo: Muito obrigado pela colaboração.

Entrevista a Filipe Almeida

Grupo: Sabe alguma coisa sobre a tradição “Duas Caras”?

Filipe Almeida: (Apontando para a estatua “Duas Caras”) Guimarães tem duas caras, ou seja, as pessoas não são sérias. É uma imagem guerreira em que numa batalha, Guimarães em Espanha teve que lutar em duas frentes, por isso que se chama Duas Caras. Uma das frentes era de Barcelos, que abandonou, dai vem a razão de Duas Caras, por ter lutado em duas frentes.

Grupo: E Milagres da Oliveira?

F.A: Não estou a par disso.

Grupo: E Guimarães, gente sem lei?

F.A: Isso dá para todos os sítios mas, diz-se que as historias das leis são sempre muito relativas.

Grupo: Estes mitos são mais os de fora para nós.

F.A: Exacto, não é bem a realidade das coisas.

Grupo: Tradição de “Guimarães esfola gatos, mata cães”?

F.A: Conheço o ditado, mas a razão propriamente dita não conheço.

Grupo: Passarinhas e sardões?

F.A: Isso tem a ver com os namorados e casamentos. Penso que é no dia de Santa Luzia que essa tradição, de os namorados oferecerem as passarinhas e os namorados os sardões está ligado a uma sexualidade pagã.(Observação: Os namorados oferecem os sardões e as namoradas as passarinhas, não o contrário.)

 

Grupo: Conhece o que se faz no dia 30 de Abril para o 1 de Maio?

F.A: Põem-se as flores para afastar o mau-olhado, é uma tradição pagã.

Grupo: Obrigado pela sua colaboração.

Entrevista a Samuel Abreu

Grupo: Conhece a tradição que remete para as pessoas nos chamarem de “Gente sem lei”?

Samuel Abreu: Não, não conheço isso.

Grupo: E a tradição intitulada de “Guimarães, esfola gatos e mata cães”?

S.A: Sim, já vem dos meus pais essa tradição, mas o significado pessoalmente não faço a mínima ideia.

Grupo: E o significado da tradição “Duas Caras”?

S.A: Parece que é uma história relacionada entre Guimarães e Braga, que estes tinham que ir cá varrer a cidade e depois não vieram e a partir daí, vocês se repararem, na Oliveira tem uma figura que na barriga tem uma cara.

Grupo: E os “Milagres da Oliveira”?

S.A: Não, isso não conheço.

Grupo: E aquela tradição em que se oferecem passarinhas e sardões à pessoa amada?

S.A: Sim, isso é uma tradição antiga que no dia da Sra. Da Conceição, no dia 8 de Dezembro, e no dia de Sta. Luzia dava-se as passarinhas, mas eu não sei o significado.

Grupo: E a das Ervas de S. João?

S.A: Não, não também não tenho conhecimento disso.

Grupo: E a passagem do dia 30 de Abril para o dia 1 de Maio?

S.A: É pôr o sabugueiro que é a tal história do burro que, antigamente, as pessoas não pusessem o burro entrava nas casas nessa noite de transição de Abril para Maio.

Grupo: Tem conhecimento de mais alguma tradição que não tenhamos referido?

S.A: Sim, a dos oleiros de Guimarães. Essa tradição antiga que se viesse cá uma celebridade, oferecia-se uma cantarinha.

Grupo: Obrigada pela sua colaboração.

Entrevista a Francisco Teixeira

Grupo: Conhece a Tradição das “Duas Caras”?

Francisco Teixeira: Conheço, se bem que não está claro junto dos historiadores de onde isso vem, mas conheço essa tradição.

Grupo: E sabe qual é a sua origem?

F.T: De facto não sei com rigor histórico, existe uma imagem popular que de senso comum local, Guimarães tem duas caras vem daquela escultura, estátua que existe no séc. XIX na Nossa Senhora da Oliveira. Tem uma estátua que tem um individuo que tem duas caras, uma no rosto e tem uma na cara, uma mascara também na barriga, não é, no estômago uma das ideias populares que parece que não corresponde à verdade que a ideia de que os vimaranenses têm duas caras vem daí. E aqui duas caras no sentido de que são um bocado hipócritas, isto não faz grande sentido, não faz grande sentido, não há nenhuma razão para se pensar que os vimaranenses são mais ou menos hipócritas que as outras pessoas. É duvidoso que essa seja a intenção correcta. Há uma outra interpretação segunda a qual as duas caras terão a ver com as duas caras de combate. A ideia de caras vem também com ideias de frente de combate é que existe uma teoria segundo qual na Batalha de Aljubarrota haveria ter combatido numa determinada ala da batalha que seria protagonizada por barcelenses e que os barcelenses terão batido em retirada, ter-se-ão acobardado ou perdido e os vimaranenses terão conseguido sustentar a sua frente de batalha dos barcelenses. Mas mesmo esta teoria não é aceite por todos os historiadores locais. Eu não sou historiador, mas conheço a teoria, e essa teoria não é aceite por todos os historiadores locais.

Grupo: E sobre os Milagres da Oliveira?

F.T: Bons os Milagres da Oliveira têm uma origem, que é origem típica dos milagres existe uma devoção clara na Nossa Senhora da Oliveira desde a baixa idade media desde o Séc. XIV ou antes do Séc. XIII que Nossa Senhora da Oliveira tinha uma devoção popular que faz com que as pessoas vão fazer promessas, oferendas a Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora da Oliveira terá feito milagres. A própria natureza dos milagres e algo que não se pode provar e não há que eu saiba algum milagre confirmado sequer pelo vaticano são altamente improváveis quanto mais os milagres que nem sequer o vaticano reconhece. Eu não conheço que o vaticano reconheça algum milagre de Guimarães feito pela Nossa Senhora da Oliveira. Tem a ver com a devoção popular uma certa até crendice popular, portanto a ideia de Milagres da Oliveira vem daí não vem do outro lado.

Grupo: Sabe qual é o significado dos Sardões e das Passarinhas no dia de Santa Luzia e da Nossa Senhora da Conceição?

F.T: Não vos sei dizer com rigor de onde vem essa tradição sendo que a Santa Luzia é associada relativamente aos olhos e a salvação dos olhos. Não sei bem de onde vem associada a Santa Luzia os namorados. Conheço essa ideia, a tradição que na Santa Luzia respectivamente os rapazes davam o sardão as raparigas e as raparigas as passarinhas aos rapazes uma alusão evidentemente sexual. Agora como é que isso começou não sei dizer até porque aparentemente uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não deixa de ser curioso é que uma tradição profana, ou seja que não tem nada de religioso com uma carga sexual muito explicita seja associada a uma santa, ema coisa que é típica da religiosidade do Minho é que as coisas profanas, puramente materiais e até sexuais sejam muito associadas s coisas religiosas.

Grupo: E sobre a tradição “Guimarães esfola gatos, mata cães”?

F.T: Não, não conheço a expressão mas nem sei qual é a relação com Guimarães

Grupo: Como ultima pergunta, conhece a tradição que se faz do dia 30 de Abril para 1 de Maio?

F.T: Essa é uma tradição que não é específica de Guimarães, não tem nada a ver com Guimarães. A ideia, eu presumo que isso seja uma tradição a ver com os ciclos solares, tenha a ver com o ciclo da Primavera que se inicia em Março, mas eu recordo-me de ainda quando era criança, na rua onde eu nasci, que as pessoas ainda punham o sabugueiro por cima da entrada da porta. Não sei é se vocês sabem porque, é para afastar o mau-olhado, o diabo, o sabugueiro tinha uma espécie de propriedades medicinais contra o diabo que era uma planta mágica, que se perdeu esta tradição que tem a ver com o facto de as pessoas deixarem de enfim, estarem fixadas nas crenças populares e algumas pessoas levavam isso muito a sério.

Grupo: Obrigado pela sua colaboração.

 

Jornal de Notícias - a Rivalidade entre Guimarães e Braga